domingo, 3 de abril de 2016

Mulheres pela Paz - Edição Especial da FÉNIX 2016

TUDO É VIDA

Tere Tavares

Desse distanciado recanto que não sabe à conflitos,
Promulga-se uma razão na brancura branda
Onde os barcos aspiram os peixes,
Os rios e as matas intactas.

O homem vive sem outra sede que não seja a da água.

Há um empenho,
Um estado de alma enobrecido pela mansidão
Que se espalha, sossegadamente, em cada coração e em cada criatura.
A chuva adormece e, sobre tudo, paira uma doçura enobrecedora
Antecipada na paz que é tão rara e, Deus, tão necessária.

Tere Tavares
Cascavel - PR - Brasil
http://m-eusoutros.blogspot.com.br/




http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/PAZ-2016/PAZ-2016-51.htm 
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/PAZ-2016/PAZ-2016.htm

Obrigada, muitíssimo, querida Carmo Vasconcelos eHenrique L. Ramalho. pela oportunidade de participar com meu trabalho de poesia e de artista plástica nas ilustrações das páginas 
 Parabéns à vossa valorosa atuação à frente da Arte. Grande abraço.

file:///E:/Tere/FENIX-PAZ%202016.html

Para ver as ilustrações basta clicar no número das páginas acima.
Toda a edição dessa revista é um primor, e merece olhares e leituras especiais.

quinta-feira, 17 de março de 2016

So quem nasce pássaro fere o dorso com asas

Só quem nasce pássaro fere o dorso com asas

Quando a incerteza lhe suga a umidade, a pele exala a sede dos passos, a descendência das colorações, das searas na erupção das sementes, o calor dos astros e o arrebol de raízes indizíveis, das fimbrias da terra. Como cascas para além das clausuras, vê-se, à mesa ligeira, um alvo minúsculo posto à prova.
É como o solo dos cardos apertando-se nos prados abertos a cada beijo fito nos mastros de ontem; como um tímido tumulto arfando sobre as tulipas. Desce desmedido o rosto de música vindo de longe, muito longe, estrada e casa. Em soluços ascende-se na inebriante presença do espírito absoluto. Parecer-se a algo para ser alguém, ser alguém para ser um, ou nenhum. E é calor perfumado e quase frio, orientando os arrulhos, o meio-dia que, aos poucos, o conduz ao silêncio que se diz e o dirá, se dará ou será, como se, ao olhar-se, revirasse a eternidade, ou tornasse as fábulas absolutamente reais, para prodigalizar cada segundo em magnífico ideal. Como um outro vindo de si para abrir trilhas e ver, depois, as manadas a pisar o mesmo pasto. Não necessitava adiar a urdidura do seu íntimo. A quem pertenciam afinal as trincheiras?
O fato de ainda respirar, a cinza das águas sempre obedientes à chama, ao cinzel corrosivo de uma alegria nunca sonhada, anunciavam-no qual aroma suspenso na língua silenciosa da erosão. Desocultava-se do encarceramento e simplesmente acontecia. Partindo os juncos, sem diminuir-se, no convexo da nuvem, como se tivesse livros na ponta dos pés, dando ritmos ao som das manhãs. Temia que lhe saísse, pela linguagem, o relicário da alma e fosse morar em drusas de névoa, em florestas irresistíveis, plenitudes, como se, ao dançar, se imobilizasse.
Vem para conferir a fome estonteante do traço, mas alguém lhe dá ciência do que está para além da cor e da forma. É a carne dobrada; o corpo desconexo que salta no escuro, dando-se ao tempo, à indeterminabilidade, à minimidade de tudo o que sente. Percebe e remexe, além do seu itinerário de ostra sem concha, a mina d’água cuja fortuna é somente escorrer dentro da sede: “Conheço-me só nessas gotas, nesses bilros conflitantes de borbulhas e membros doridos. Que acidez me cobre as feridas? Isento-me de tudo, sobra-me uma quase fuga ou desistência, o desencontro da sanidade para prosseguir como fui antes que me fosse infundida a perfeição das máquinas, o desagrado das gentes, os desenganos, a impossibilidade a me cercar, tolher, bramir, submeter. Sou córrego e planta, vitória-régia, ninfeia, limo aguçado a porfiar-me de petúnias, voz clandestina, digna e repleta, que habitam as mãos nuas e cabisbaixas, solo a par do solo... colho a poeira, a dança no escuro, o que restou no desencarceramento da ternura, único círio cuja chama não se dissipa nem adormece, e vem banhar-me, isento de faces. O céu geme o meu silêncio, a metáfora inconclusa que de mim transborda”.
Distraem-se a mente e os soluços nas denúncias do inverno, no perímetro do tempo que, colorindo-se de vácuo, sorvem a flor comunicante que não finda quando eclode, em secura de fontes e seivas, na biologia dos diálogos imperceptíveis, nas dores insistentes, como se lessem as pétalas e pintassem farpas nas tranças, num debrum oxidado de luas – matriz de ar e de crepúsculo. Ele é os desencontros pretéritos, esfumados em palavras invisíveis que a liberdade tece numa voz de elo, e, no calor difuso das geadas, descobre que o segredo é invadir a estranheza das coisas.
Ele planta as cores que não cabem na ânfora ao obedecer à sinuosidade do amor – no matiz gradual dos olhos, o pulsar do impulso de proferir-se, como se, em suas espáduas, tatuasse algum sentido inusitado. A sua alma é também o mundo – ninguém a difere do que é. Exceto a armadura de sonhos que jamais deixa de ser o lado em que nasce inteiro e seguro de si mesmo. Quando então acorda próximo aos caules do ocaso, à sincronia ardente e silenciosa cicunscrita nas migalhas nunca proferidas, sorrindo seus reflexos à lingua exangue d'água – para, e só assim, compreender que a descida é posterior à escalada.
(do livro "Vozes & Recortes" Editora Penalux 2015)
Tere Tavares
Cascavel - PR - Brasil
Agradecimento especial à Carmo Vasconcelos e Henrique L. Ramalho , de Lisboa, PT, pela publicação na Antologia LOGOS Nº 19 MARÇO - 2016. Página 42/Prosa.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Publicação na Germina - Revista de Literatura e Arte

 Publicação na Revista   Germina - Revista de Literatura e Arte

dezembro - v. 11, n.(2015)



Para leitura acesse o link acima.

Agradeço ao escritor Krishnamurti Góes Dos Anjos pela resenha
 e à Germina - Revista de Literatura e Arte pela publicação.
 Meus agradecimentos à Mariza Lourenço pela recepção e edição. Grande abraço.

Publicação na Revista FÉNIX LOGOS Nº 18 JANEIRO de 2016

UMA EMBARCAÇÃO PENSADA PELAS ÁGUAS
Por Tere Tavares

À lágrima que sorri. À grafia das faces. Há tesouros que preferem ficar nos baús. Os tesouros inúteis.
“Serei sempre algo mais do que os sorrisos que chorei. Não há nenhuma diferença entre mim e essas estátuas; ambas somos estátuas a moverem-se passivamente, ramos de luas onde somente o solo nos retorna ao que somos, por sermos feitas à cava lentíssima das argilas que não cozem, como espelhos ao contrário, prisioneiras da liberdade. Há quantas investigações os olhos? A ausência de verdade? Do trigo ao pão, quanto é grão? Infecundidade dos devires”?
O sal não é mais que a terra. Para Josef, a rebeldia é a natureza do mundo. O silêncio aquoso desaba sobre o dia rendilhado de avencas. Epigramas de gotas colorem as fissuras das casas redobradas de transparências, sem jamais serem as mesmas casas, escorregando num desluzir contínuo e mudo a defluência das janelas, o alinhamento impassível das pausas, no pó descascado pelo vento.
O sol-pôr que adentra esculpe a chávena repleta, nunca meio vazia nem meio cheia. O cascalho se completa com vozes plissadas em halos, com profundas meditações. Nada é infecundo na poética de edificar (se), ou desejar criar um mundo a partir de si. “Deixa-me nascer somente agora, neste pequeno olvido de estrelas”. Perdurava intransferível, suplicante como o ar onde jogava letras, letras e mais nada, para desgrudar o mosto inodoro das asas. Porque não lhe foi dado ser, senão um estar. Não somos antigos nem moços, somos as lacerações ardilosas do tempo, a raça humana, um bando de necessitados. Josef é a incredulidade a dizer que ainda é possível acreditar num coração com orquestras. E há nele um céu aceso e um sopro musical.
“Existem momentos em que redescubro as finalidades da luz, o lusco-fusco remoído à clareza do breu. Porque a palavra carrega a pungência de tudo o que vive, como num trabalhoso ócio, transmutando-se em seiva de linguagem inata do que me integra, ainda que não conheça. Porque fora do tempo existe o espaço, a não existência ou só um retalho metafísico, outras solidões, também sós, a palha que virou chapéu. Quanto de mim sou eu nisso tudo, qual dos meus silêncios murmura o inteiro do que já não mora aqui dentro? Enrolo a língua dentro das folhas, folhas fora, folhas todas, mudas folhas. Sou folhas soltas, línguas soltas. Ondulo nas folhas para existir. O meu rosto é uma folha, um amontoado de folhas nervuradas pela vontade. Lanço-me nos horizontes permissíveis, feito sol, feito raio de borboletas, de não me guardar, não mais. Ah, pudesse eu compreender as ervas, a mastigação dos pássaros, cinco selvas depois dos poros sulcados na escuridão abissal das mãos”.
Josef perdura no cicio oculto das cigarras e para não perder-se na sinceridade de si mesmo, agarra-se ao vento, traindo as amarras que o libertam. Anota o futuro dos papéis dentro das lágrimas. A casa emudece, como antigamente, como sempre, como as palavras e as sínteses ambíguas, sentimentos e sentidos dizendo além dos instantes que veem morar nas linhas quase antigas da sua face, expressão e significância moldando-se entre os desvãos que vão ou não formar.
Josef nunca sabe o alcance, as envergaduras de algo antes do arremesso. Mas, é possível que haja, para ele, algo a intuir claramente, a obscurecer a inexatidão das causas, escassez ou demasia, uma fragrância obtida no ato de camuflar ou exibir, na visão ou na cegueira, um corredor que lhe insinua o caminho ilusório e imenso da linguagem; sementes da cor, do sonho que transfiguram a arquitetura do seu sopro, o balbucio inclemente da imaginação. Dias de decisões escolhidas a esmo que o sangram e o singram como círculos de chuva seca, como páginas sem aridez, como Josef.

do livro "Vozes & Recortes"  Contos -Editora Penalux -2015

Tere Tavares
Cascavel - PR - Brasil
http://m-eusoutros.blogspot.com.br/

sábado, 30 de janeiro de 2016

Vozes & Recortes - Resenha por João Paula Santos Pires.

Editora Penalux
23 h
Resenha do Livro: "Vozes & Recortes", contos. Autora: Tere Tavares.
“Eu não quero ser compreendida, o amor me parece ser importante.” A frase de Lygia Fagundes Telles parece dialogar com Vozes & Recortes, quinto livro da escritora Tere Tavares. Resguardado por imagens que se ondulam em frases belas, Vozes & Recortes cintila por composições que, no âmago, têm um propósito sublime. Tavares propõe ao leitor a magia de lhe sublimar a essência, de fazê-lo [re]crer no amor como um construtor de cisternas.
Outrossim, o brilho representado pelo texto conserva sua força quando se quebram os diques da contenção formal e dos padrões estáticos e estéticos. Os escritos esboçam o lavrar singelo e terno de mundos que pedem compreensão, mas de onde os olhares são condoreiros e se pontilham de cima para baixo, na multiplicidade das recepções: Nada escapa a quem tem em si o fragmento de todos os sóis.
Tere Tavares se reveste em âmbares de subjetividade e afinco, que palmilham os caminhos da utopia e do sonho. Aliás, os contos se fantasiam de imagens oníricas que desafiam as lentes do mundo categórico e perene. No limite entre parágrafos e expectativas, cabe ao leitor admirar o inebriare da criação lúcida e do sentimento desinibido. Afinal, Vozes & Recortes é o compêndio de uma lucidez que há muito deixou de ser peremptória. Nos contos de Tere, o instante não é definitivo e não existem versos indiscutíveis. Irrefutável é o poder da autora de metamorfosear os domínios da realidade e de expressar horizontes inefáveis no céu de sua literatura:
“Eram asas construídas de pedaços para não omitir aos pássaros a boca da paisagem absoluta – até que falasse, por dentro, somente a limpidez de antes. Algo que eu amava e se transformara em partes de mim mesma: uma soberana inocência capturando o silêncio”.
Em suas Vozes & Recortes, Tere Tavares captou muitos silêncios, que se desenharam de flores e introspecção, de incógnitas, de poesia e de caminhos escuros que clamam por luz. No universo de liberdade da autora, os silêncios podem ser musicais e mesclados, acomodados e plenos. E toda plenitude precisa de recantos estrelados para despontar. Quanto de mim sou eu nisso tudo, qual dos meus silêncios murmura o inteiro do que já não mora aqui dentro?
Caberá também ao leitor conservar a cautela, sobre o agradável risco de se perder em contemplação. Quando voltar a si, poderá já ter sido envolvido pelo silêncio da sonoridade e pelas estrelas de ritmo, com as quais a autora faz questão de nos presentear. De volta à compreensão racional, o emaranhado de palavras terá cumprido seu especial intento: emocionar. E então a arte resplandece na atmosfera paisagística de Tere. Afinal, suas palavras podem caminhar livres em jardins silenciosos. Podem se renovar em mesclas, vozes, laços, recortes. Antes que o parágrafo termine.

Tere Tavares Emocionadamente agradecida ao Joao Paula Santos Pires e àEditora PenaluxWilson Gorj e Tonho França por esse presente, essa resenha que guardo com o maior apreço. Estou deveras feliz, De perder a fala. Obrigada. Merci. Gracias. Thanks. Grazie.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Publicação na Revista eisFluências - Dezembro de 2015.



Revista eisFLUÊNCIAS -Dezembro/2015-38ª Edição-EDIÇÃO ESPECIAL DE NATAL com
232 participações de 16 países. Eu consto na página 35.

Grata pela publicação Carmo Vasconcelos e Henrique L. Ramalho nessa belíssima e especial edição de Natal da Revista eisFluènciasl, ao mesmo tempo que os parabenizo pelo exímio trabalho! Um feliz Natal! Grande e fraternal abraço.


POR JESUS CRISTO
Tere Tavares

Há muito espaço no tempo que foi por Ele dividido.
Sobram ternura e acolhimento nos Seus olhos que no céu se misturam às estrelas, porque a Ele semelhantes.
E Sua sabedoria nos deixou uma herança de bens intocáveis e nunca extintos.
Antes Dele e Depois Dele.
Esse que nos visita estejamos onde estivermos
E nos abençoa ainda que não lhe peçamos
E partilha conosco a sua vida e com sua presença oculta nos contempla como Irmão e como Pai e como Amigo inseparável. 
Porque Nascido para morrer sobre nós a Sua Vida
O amamos para sempre e sempre.

Tere Tavares
Cascavel, Paraná, Brasil


https://www.facebook.com/tere.tavares.1

http://www.carmovasconcelos-fenix.org/revista/eisFluencias/38-DEZ15/eisFluencias_Nov_2015_6_38-35.htm


terça-feira, 24 de novembro de 2015

VOZES & RECORTES um livro de Tere Tavares

Resenha por:

Krishnamurti Góes Dos Anjos 




A palavra constitui o grande veículo de expressão do conhecimento que o homem tem das coisas. E a imaginação a condição primeira de todo o conhecimento. Verdade consensual no mundo do homo sapiens.Muito bem. De que forma a literatura contribui para a difusão deste conhecimento? Contribui na medida em que lança mão da imaginação criadora transfigurando o real e transformando a realidade palpável, organizando-a dentro de novas sínteses e novos sistemas, que estão atrelados ao universo interior de seus produtores. E é assim que esta experiência colhida no contato com a imaginação criadora do escritor nos enriquece, pois nos insinua novos caminhos a seguir. Verdade também consensual, todavia muito pouco conhecida.

Avancemos mais. Grosso modo, há um modo de ser e vera realidade tipicamente poético e outro tipicamente prosaico. No primeiro o “eu”, matriz das artes, assume-se como espetáculo e espectador ao mesmo tempo; já na prosa, há um movimento do “eu” para fora de si. Em síntese: duas cosmovisões diferenciadas, embora complementares. 

Essas breves considerações nos vêm à mente ao iniciar a leitura de ‘Vozes & recortes’ de Tere Tavares, Editora Penalux – Guaratinguetá – São Paulo, 2015 – 112p. Este livro se nos afigura como obra singular no atual panorama da literatura brasileira contemporânea. Poesia e prosa andam juntas nesta obra e ambas se nutrem do mesmo lastro subjetivista e transfigurador da realidade. Os 28 textos ali reunidos não se prestam à formas engessadas, à “belezas” formais predeterminadas. Com a sabedoria instintiva dos criadores, a autora sabe que a arte é uma consequência da criação, não o cumprimento de uma meta estética preestabelecida. Assim é que prosa e poesia se atraem e se fortalecem em confluências e novos trançados. Dessa recíproca atração advém o fato de que certos trechos constituem verdadeiras clareiras poéticas como o exemplo abaixo extraído do belíssimo texto: “Nada diz mais do que uma folha em branco”: 

“Então se recolhe: ‘A criação é notadamente silenciosa, solitária, até mesmo angustiante – mas traz entranhada consigo o prazer de criar’. E isso é tudo o que lhe importa. Toda a virtuosidade que alcança se alastra através da leitura que faz do mundo ausente das bibliotecas. Então sonha: ‘Com as palavras nas faces quero atravessar o silêncio e suprir a falta das asas, a mística leveza de um retorno a um originário berço de estrelas, e obter, enfim, a alforria do efêmero, de mim.” 

Introspectiva, intuitiva, capaz de descer fundo para abeirar-se do indizível, a autora surpreende-nos com uma linguagem de expressão trabalhada, aflita e profundamente criativa: “O que posso dar ao mundo significa o nascer contínuo, a invenção de um amor original, um gesto genuíno, essencialmente, uma inocência”.Em outros trechos, verdades estonteantes onde o pensamento escapa do óbvio, se esgueira pelos meandros da ambiguidade e revelam frases luminosas que estremecem de súbito a superfície do relato: 

“Porque a palavra carrega a pungência de tudo o que vive, como num trabalhoso ócio, transmutando-se em seiva de linguagem inata do que me integra, ainda que não conheça. Porque fora do tempo existe o espaço, a não existência ou um só retalho metafísico, outras solidões, também sós, a palha que virou chapéu”. 

Tere Tavares roça verdades existenciais com as asas de luminosos trechos esvoaçantes a revelar-nos a estranheza dessa contingência a que chamamos vida: “Não somos antigos nem moços, somos as lacerações ardilosas do tempo, a raça humana, um bando de necessitados. Josef é a incredulidade a dizer que ainda é possível acreditar num coração com orquestras. E há nele um céu aceso e um sopro musical.” 

Prosa poética, poesia em prosa, ou que nome se queira dar à literatura de Tere Tavares, já não importa. O fato inconteste, a merecer aplausos, é que a liberdade estética adotada pela autora, dentre muitas coisas, também nos dá conta de que vivemos em um tempo, no qual nossas almas estão sufocadas, esmagadas em favor de valores para os quais o homem é objeto desimportante. Não seria esta a mais nobre função da literatura? Com efeito.

Krishnamurti Goes dos Anjos é escritor e pesquisador. Autor de “Il Crime dei Caminho Novo” (Romance), “Gato de Telhado”, “Um Novo Século”, “Embriagado Intelecto e outros contos” e “Doze Contos e meio Poema”. Tem participação em várias coletâneas e antologias, algumas resultantes de prêmios literários. Possui textos publicados em revistas literárias na Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro, “O Touro do rebanho”, publicado pela editora portuguesa Chiado, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance.

Agradeço imenso caro Escritor Krihnamurti Goes dos Anjos  tuas impressões sobre o livro "Vozes & Recortes" me deixam bastante feliz. Honrada pela leitura e apreciação.
Agradeço, mais uma vez, à Editora Penalux,pela publicação. Grande abraço.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Coletânea A arte pela escrita Oito

Acaba de cruzar o Atlântico, direto de Portugal para minha casa, 
a Coletânea  de prosa e poesia - 2015 -"A Arte pela Escrita Oito" 
da qual participo com as prosas "Depois do céu", "Estro" e "Acácia", numa publicação conjunta com EscritArtes Goretidias e a editora Mosaico de Palavras.

Gratidão imensa à Goreti Dias e Dionísio Dinis pelo convite. Parabenizo-os pelo belo formato e conteúdo da Coletânea, resultado do excelente trabalho e dedicação à Literatura. Parabéns também a todos os participantes de todas as nacionalidades. Tim-Tim!




Acácia
By Tere Tavares

Onde se esgarçavam os labirintos sorridentes do céu? Quando se despira a noite para que dançassem sobre si as estrelas?

“Os peixes beijam arbustos à linha da água que se perfila na argila da minha alma. Teu corpo. Eu sorrio para que venhas banhar-me a fronte com o burburinho dos pássaros. Será que o sono dos pássaros é um dormir? Germinei em ravinas as telas melódicas da realidade. Como dizer-me se não seria eu a falar o motivo da minha vinda incontornável. Numa lua que não vejo, penso cultivar o teu sorriso telúrico, a tua tez de orvalho num incêndio sem direção a ranger no horizonte, onde nascem as ancas anônimas do recomeço. Alguém indica onde está o arborescer que falta? À boca das proas alicerçadas nos teus olhos de harpa, tuas mãos de navios dedilhando-me em lentíssimas vagas, docemente”.

Inventou a luz, mas as estrelas não se perderam. Precisava de um manto para encobrir a desilusão na perícia inconclusa das metamorfoses para suster os pontos ínvios, coragem era tudo que lhe restava – mesmo ante o medo de perdê-la. A espessura lúcida evidenciava a volúpia vital que lhe envolvia os lábios, no diafragma das primícias diluídas e sem regresso, para onde confluem as palpitações das pedras, os alvéolos do vento. Não é somente as cepas de um espécime extinto ainda tilintando num sem rumo de solidão soprando-lhe os ombros, num tropeço entre espuma e água: marés, dardos e grãos.

“Não nos perdemos, apenas nos distraímos. Sabes? Aquele tempo incolor em que descascamos. Como gravetos de chuva. Criamos beleza, nunca o distanciamento”.

Então pousou os olhos sobre o seu brilho. Seu corpo. A terra em mais um pomar consumido em seu início intacto. À sua similitude.

Escreveu esquecendo o tempo, abstraindo-se de tudo. As palavras pululavam em sua mente, num primeiro momento, fragmentadas em pensamentos e sentires, para não furtar-se à sinceridade dos personagens. O leitmotiv surgiu-lhe a partir da reflexão sobre o quanto é possível a des-configuração da imagem de si mesmo ou de outrem, ante os atropelos instados constantemente pelos acontecimentos e vicissitudes cotidianas, que a tudo querem dar forma brevíssima, por atalhos e caminhos imprevisíveis.

Deu lugar às paisagens que comumente não vemos, ao detalhe que muitas vezes nos escapa, nunca, porém, sem impregnarmo-nos dos seus rastros. Promoveu um prelúdio onde as emoções, aparentemente, se destroçavam.

O único e o outro, também único, tracejam, coincidem num pacto capaz de promover resgates, aproximações impensadas. Sentiu e quis insinuar ou subverter como objetivo daquele instante criativo, a possibilidade, sempre existente, de um momento de busca que se bifurca entre uma e outra alma. Como na confluência de dois rios: o encontro.

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Estro

“Há um Silêncio enorme em nós que nos chama acenando, e a entrada neste Silêncio é o começo de um ensinamento sobre a linguagem do céu. Porque o Silêncio é, em si, uma linguagem de profundidade infinita, mais fácil de entender porque não contém palavras, mais rica em compaixão e em eternidade do que qualquer forma de expressão humana. Não há nada no mundo que se pareça tanto com Deus quanto o Silêncio.” - Mestre Eckhart de Hochheim

Não sei se fecho os olhos reservando-me num ruído onde os casulos não vibram. Sou uma canção que navega impérvia, na espessura do limbo; uma erva errante que sucumbe sobre as pedras, isenta da sabedoria das vindimas e dos favos. A angústia é uma grade invisível, um anseio por gotas e fogo que me desarma. Com esse diminuto par de luas quero silenciar o incêndio, a água, os fins, o eriçar das épocas. A voz do que amo é um sorriso, um salvamento que se dissipa para desordenar-me. Minha pele é uma canoa que guarda o momento de ser nascente e rio e mar e foz. Algo é brisa e é renúncia e esquecimento ou vício em meus azuis anúncios. Desejo ver na minha nudez a serenidade que cobre a fuga, o jejuar da palavra, a migração das mariposas sem destino. Ou ninguém. Angelical e temporário, persistente como a juventude, como o sol que se recolhe numa pausa sem pálpebras. Não me dei conta das escalas profusas, das perfurações que se desprendiam numa linha indevassável e quase definitiva, inquirindo-me impiedosamente, onde eu havia perdido o melhor de mim. Onde estive quando não estive comigo? Arrependo-me, mas não é suficiente... um pássaro sem murmúrios adormece-me o peito, como cios que não se findam, como a sombra que ilumina a estranheza difundida nas pupilas. Porque é o sol que faz girar a flor. Porque os olhos se acostumam com a luz e aceitam a circularidade retornando àquilo que precede e ofusca. Porque é necessário ser todos e nenhum.

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Depois do céu

“Ele [Deus] é a riqueza em profusão porque é Um. Ele é o primeiro e o supremo porque é Um. Por isto, o Um penetra todas e cada uma das coisas, e permanece Um, unificando o separado. Por isto é que seis não são duas vezes três, mas seis vezes Um”. (Mestre Eckhart de Hochheim )

“Tenho todas as faces, sou todos os rostos que desconheço. A palavra não se perde no candeeiro do horizonte e é sempre outra palavra. E tem faixas e agulhas lúcidas sobre o fervilhar azul da pele, o calor glacial dos nervos. Quando enfim se reconstituirão os meus ossos em nódulos robustos beijando-me como estrofes de orvalho postas num piano ou as tranças de uma rede perdida num sorriso ondulado, numa quase amnésia do vento, elã.”

Enquanto dormia despertou e viu que o amor era somente o amor.

“Arrisco a riscar o chão, coberto por flocos de solidão.”

O que lhe sombreia os ombros são os imensos letreiros arrebanhados nas restingas rudes, nas arenas vazias, são dorsos que destoam o drama das coexistências, os volumes e tramas dos vincos e vivências, intenções desmaiadas no encalço do que se ausenta e persiste e desencontra o tempo que soçobra nos movimentos e assoma em constelações supérfluas, em brilhos escuros que suplicam o arrematar das chuvas, dedilhando deidades e ferrugens, um sol resplandecente para ouvir-lhe a arte que arquiteta nos resgates das analogias e das contenções. Sabe apenas uma pista de si:

“Hoje fui a asa que não tive. Meu quinhão é a incerteza dos dias. Por saber a pássaros e prolongar-me neles.”
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textos By Tere Taavares





terça-feira, 10 de novembro de 2015

Livro "Vozes & Recortes" - Impressões

Livro de Contos "Vozes & Recortes"  2015 By Tere Tavares (Editora Penalux - SP)


Recomendo a leitura de "Vozes & Recortes", segundo livro em prosa da amiga escritora, poeta e artista plástica Tere Tavares, membro da Academia Cascavelense de Letras.

De início, advirto que a leitura do livro exige um mergulho nas águas profundas da palavra. Isto porque a escrita da autora, embora se apresente acessível e simples, é um caminhar poético ora por alamedas, ora por ruas estreitas, ora por trilhas em meio a bosques e florestas. Se num determinado momento o sol brilha, noutro brilha a lua, e noutro chora o ar e florescem as orquídeas.

O uso da linguagem metafórica cria uma atmosfera poética na prosa da autora, deixando a leitura prazerosa, apresentando ao leitor um universo de imagens a serem exploradas a cada texto.

Vozes & Recortes é uma obra que, sem sombra de dúvida, reafirmando o que disse o poeta e jornalista José Maria Alves Nunes, autor do prefácio, eleva a autora à categoria de um dos grandes nomes da literatura contemporânea no Brasil.

José A Cauneto
Presidente da ALAP
Academia de Letras e Artes de Paranavaí

Veja mais aqui:

domingo, 8 de novembro de 2015

A unidade que me transforma e me divide

Não me pertenço.
Penso ser deste mundo
pressupondo que outro mundo
não exista além deste.
O que tenho é o espaço onde estou.
Onde estou sou o que tenho,
(tenho?) a mim mesma quando muito,
o café escuro que bebo.
Este pouco de mim é tudo o que aparento e sinto.
Estabelecer não me cabe
e se me cabe não estabeleço.

do livro "Meus Outros" 2007.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Do Projeto Releituras da Canção do Exílio de Gonçalves Dias


Extinção do Empecilho
      
Se isso ocorrer de fato
Haverá menos Gato e Rato
Orfanato e Cão

Toda fé na Lava Jato
A fatal Operação

À Justiça pede-se: vem cá
Prenda os ladrões de Sabiá.

Céus, que ainda floresceis de estrelas,
Descei a mais bela e cadente,
Para livrar da roubalheira toda Gente:
Nossa Terra Brasileira.

By Tere Tavares 



"RELEITURAS
A Canção do exílio, de Gonçalves Dias, um dos mais populares poemas da literatura brasileira, e com certeza, a intertextualidade mais frequente na nossa tradição poética. O retrato idealizado do país, a saudade do poeta romântico da pátria e a realidade dos problemas político-sociais do momento , nas extraordinárias releituras dos poetas atuais. Proposto como um simples exercício de criação, as vozes dos poetas revelaram belezas e indignações. Uma profunda capacidade de reflexão de como estamos tratando a nossa cultura. Mesmo não sendo esse seu papel, o poeta ( antena) acaba sendo um porta voz da população em suas reivindicações".
By Jose Couto  - a quem agradeço a inclusão do meu poema no Projeto.
Obrigada também ao Boca a penas  pela excelente parceria.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Livro de contos "Vozes & Recortes" - Revista Soletras

Livro de Contos Vozes & Recortes - Editora Penalux- Autora  Tere Tavares


Revista Soletras - Agosto 2015



Revista Soletras,
"A SOLETRAS – a Sopradora de Letras vem para ser uma revista literária electrónica sem fins lucrativos, editada a partir da cidade da Beira, Moçambique".

Edição de Agosto de 2015:
A "Soletras" está belíssima, recheada de bons poetas, contistas e matérias.
Entre as publicações desta edição: Álvaro Taruma; Celestina Marques; Deusa d'África; Hera de Jesus; Hirondina Joshua; Nataniel Nhabanga; Paulo Nguenha; Sanjo Muchanga; Sobrevivente Filho da Velhice e o amigo Ricardo Escudero.


Agradeço imenso à Revista SOLETRAS pela publicação do prefácio do meu livro de contos "Vozes & Recortes"(Editora Penalux prosa 2015), escrito por José Maria Alves Nunes.
Ao escritor Lino Mukurruza, vai também meu especial agradecimento.

Grande abraço a todos

O link a seguir vos leva à Revista Soletras que pode ser baixada para leitura integral em PDF:
https://www.dropbox.com/s/wgazvt16scrodb1/SOLETRAS%20AGOSTO%20DE%202015.pdf?dl=0

domingo, 23 de agosto de 2015

Livro de Contos "Vozes & Recortes"




Alma de papel e tinta

"As cores são a chave, os olhos o machado, a alma é o piano com as cordas”.
(Wassily Kandinsky)

Um nascimento que tem em si o solo, a fímbria do afeto, procurando o que julgava escondido. Seu papel: o corpo. Abarcando hastes de caules vertidos em fusões antecipadas nas corredeiras de folhas e na constância da aurora. O não evidente se movia na miragem que desbotava compacta, como que prevendo uma criança adormecida numa calma afetuosa. Sim, Ordep sabia-se: “tenho o direito de sonhar. Tenho direito ao delírio. Já me sabia caminhante, agora me reconheço utópico. A realidade me parece inacreditável”. 

Toda a sua substância seguia a esvair-se. Ordep sequer percebia quando o sol se distanciava do dia por que não interrompia seus movimentos. Quer na presença ou na ausência de tristeza ou risos, o amor – nenhum semeador se assemelha a esse construtor de cisternas – germinava-se em verbos, no cerzir infinito do vento, enlaçando-se na argila e nos vinhos da grande mãe Terra, sinalizando que sua feitura indefinida residia num lugar qualquer, e era sorvida em êxtase noutro deserto de vislumbres, numa voz de pedra. 

De algum modo Ordep era aquele quadro de Hopper; aquele deslocamento à frente do silêncio, do verde, da esperança, da comunicação atravessada, da solidão infatigável. 

Mentia ao condenar a mão alheia, dizendo-a frenética e sequiosa de afagos, de esfinges para o ego, do elogio fácil. No fundo, queria ser reconhecido entre a multidão e não sabia de que forma, depois de ter evidenciado em sua arca todo o apelo de que era portador. Sobrava-lhe a ilusão de que nada disso o fascinava, tampouco o tocava. Então, voaram de sua abertura facial, mariposas e cinzas afetadas de inferioridade, sedentas de cor e perfumes. Queria algo que aos outros interessasse – o mundo é coletivo. Ele era só mais um coletivo no meio da imensidão. Não seria descoberto; não seria aplaudido; não teria seus quinze minutos de fama. Esbravejava refutando aquele odor de aglomerações, como se quisesse ser tocado por uma fábula, por um condão desfalecido.

Disfarçado de liberdade, farejava apenas o que poderia ser sua própria morte: o farol iluminado. Apesar de ser um astro. “Essa manhã interminável em que me dei conta uma vez mais da minha inerte ventura, da cesura em que participo – a lágrima já foi mar um dia como o meu corpo, lapidado pelas montanhas de fogo. A cada instante que passa, sinto tudo de uma forma mais íngreme e não tenho o amparo das primaveras que me serviram de braços. E virá o inverno que eu talvez nem viva, que talvez me descreva. Quando me poderei guiar?”. 

O deslocamento de Ordep nunca o representava. A sensatez é o arranhão mais espesso e menos distante da profundidade que a tudo ondeia e unge. Perdia as horas de ser triste sempre que adentrava os caminhos da linguagem, como se desaparecesse, escrevia, escavando a trilha para além do caos, folha sobre folha. 

Beijou uma flor que fixou para sempre o pólen em seus lábios – agora vivia à sua procura. Ordep acomodou silêncios e passos rumorosos, e dançou, na pausa das chuvas, os ninhos embebidos de sol – porque, para ele, os livros são como pássaros que, acarinhados pelo instante, sonham vagar indefinidamente pelo céu, esquecidos de se curvarem.


Conto que abre o livro "Vozes & Recortes", obra escrita totalmente em prosa que sai pela EDITORA PENALUX:
tem o lançamento  marcado para o dia 24 de agosto de 2015 via Facebook. Acesso pelo link:
Adquira seu exemplar pelo catálogo da Editora Penalux:
http://www.editorapenalux.com.br/loja/product_info.php?products_id=315 
ou diretamente com a autora pelo e-mail  t.teretavares@gmail.com

Ficha Técnica:
Livro: “Vozes & Recortes”
Gênero: Contos (Selo Castiçal)
Formato: 14x21
Autora: Tere Tavares
Editora: Penalux
ISBN: 978-85-69033-45-5
Ano: 2015
Número de páginas: 112 em pólen bold
Valor: R$ 32,00 + frete.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Antologia Poética 29 de Abril O Verso da Violência




Sou uma das escritoras que a integram. Grata aos organizadores (as) e à Editora Patuá pela publicação dessa obra: um protesto poético contra a barbárie que ocorreu na capital do Paraná, Curitiba, contra os educadores(as) nesse fatídico dia. Haja ecos e mudanças.
A palavra serve sempre: parabéns a todos os autores(as) participantes.
Eis a minha participação:



O cardume pressente os bicos das gaivotas
E seu mergulhar inevitável.

Há um pequeno espaço no mar e na Praça Nossa Senhora de Salete.
Há uma fresta no tempo para arrebanhar tudo o que, solitariamente, navega na barbárie.
Um sopro humano sobressai das areias repletas de cestos e barcos,
Como se alguma morte guiasse a todos numa conjunção desordenada
Ou a vida suspirasse numa eternidade fora do homem, do pássaro, do peixe.

A metrópole dorme suas misérias e solidões famintas.
Olha. São filhos sem cadernos e sem livros.
Vertiginosamente flui uma esperança de bosques, uma renovação do ar.

Há tempo bastante nos intermináveis sumiços que se fixam nos olhos de todas as coisas.

As escolas. O vazio sanguinário, petrificado, que nem em pesadelo, se ousa imaginar.

Os barcos ainda estão pescando, e as gaivotas sobrevoam os barcos, e o cardume adormece torturado em estômagos infinitos e hálitos feridos.

Tudo é massacre e máscara para os corpos do espaço que a tudo assistem, incontestes, impunes, inexpugnáveis no seu armamento espúrio e sorrateiro.

O desgoverno.

Olha. Os mandatários sorriem satisfeitos atrás das tristes ramagens das Araucárias.

Ninguém acorda quando está morto ou quando finda uma jornada.

Olha. Os mestres sangram por ter o giz e a voz como únicas ferramentas.

Ninguém se fere se não há fome, se não houver morte, ninguém come.

Melancolias envelhecem e alegrias formam tensões, paixões e amores vestidos de silêncio e claridade. Há fumaça e estrondos afrontando a justiça — que não é justa.

Ainda é noite para quase todos.
Há gotas de tempo para madrugar os que adormeceram rispidamente, como curvas breves e rastros irreconhecíveis. O espaço que se filtra no sangue, como um grande dragão, despedaça o mar e os barcos; e os peixes; e os homens; e as paixões; e a eternidade, como se fossem leves e letais gotas de matilhas infelizes a caçar luzes, vestidos todos do que só se ouve no vento; e na nuvem; e no pó.

O despotismo. E seus asseclas.

Oh grande infelicidade que se vê palpável no entreolhar e no entreouvir — felizes! — das patas e dos pés que, no dia 29 de abril, se tornaram sombras e almas em escombros.

De Santa Perpétua à Mãe Preta — Julio Guerra chora esse descampado dia.
Chora todo o Paraná. Envergonha-se à humilhação.

Já não há amplitudes sobre os ombros dos que clamam pelo salvamento do ensino. Os alvos. Tampouco há derrota. Que derrotado é quem não se sente vivo ainda que tema a morte.

Ouvem todos que não há retorno para além do que se foi.
Somente a audiência infalível que terão consigo e com Deus: de tudo em nome.

Em Sinas
Tere Tavares

poesia
adelaide do julinho + ademir demarchi + adriane garcia + albertina laufer + ale safra + alex dias + alvaro posselt + amanda vital + angel cabeza + antônio lazzuli + assis de mello + beatriz bajo + camillo josé + carla diacov + carlos alberto muzille + carlos eduardo bonfá + carvalho junior + cel bentin + claudio daniel + donny correia + ellen maria + fabiana motta + felipe magnus + fernanda fatureto + gabriel felipe jacomel + geraldo witeze jr. + greta benitez + gustavo petter + helvio campos + homero gomes + ikaRo maxX + isabela romeiro vannucchi + ivan justen santana + josé aloise bahia + josé antônio cavalcanti + jovino machado + jr. bellé + leonardo chioda + líria porto + lisa alves + lívio oliveira + lubi prates + luciana cañete + luiz roberto guedes + maíra ferreira + marcelo adifa + marcelo ariel + marcelo de angelis + marcelo sandmann + marcelo vieira ribeiro + marco aurélio de souza + mariza lourenço + micheliny verunschk + miriam adelman + norma de souza lopes + nuno rau + nydia bonetti + pablo morenno + priscila merizzio + ricardo aleixo + ricardo escudeiro + ricardo silvestrin + robisson albuquerque-sete + ronald augusto + rosane carneiro + samantha abreu + sérgio fantini + silvana guimarães + stefanni marion + tarso de melo + tere tavares + thiago dominoni + thiago ponce de moraes + vasco cavalcante + waldo motta + wender montenegro + william zeytounlian + yuria santamaria pismel + ziul serip

apresentação/antologia
daniel faria

apresentação/depoimentos
célia musilli

depoimentos
alice ruiz + amabilis de jesus + caetano zaganini filho + christine vianna + claudio de assis da cunha + francis de lima aguiar + francisco soares neto + ícaro moura + josé melquíades ursi + rafael kenji kuriyama + sérgio daguano + thiago dominoni

fotografia
brunno covello + lina faria

diagramação/projeto gráfico
bruno palma e silva

colaboração
lubi prates

organização
domenico a. coiro + mar becker + priscila merizzio + silvana guimarães

domingo, 26 de julho de 2015

Livro Entre as Águas na versão E-book




Honrada e agradecida à querida amiga Carmo Vasconcelos e ao amigoHenrique L. Ramalho, pela publicação, na íntegra, da versão ebook do livro "Entre as Águas" (Contos 2011) - Um duplo abraço de cá do Atlântico por esse presente maravilhoso. Para leitura basta acessar o site:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/Escritores/TERE-TAVARES/TERE.htm

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Verted'ouro

Van Gogh - Flor Jardim - 1888
Verted’ouro

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
(Olavo Bilac)

O sol continua a sumir por entre as pedras, com seus raios quase entristecidos. As ondas se esparramam como anjos incansáveis. A mulher com nome de flor ou de santa tinha a voz intensa, breve, e, principalmente risonha. Assemelhava-se a uma evolução musical de suave atmosfera.  Não bastasse o canto, tinha o encantamento, o pleno exercício do querer, aceitando o que não fora possível mudar. Pensava com o sentimento.

Seria um estado de beatitude elaborada para o inestimável memorial das criaturas iluminadas. Descrevia o que sentia enquanto a outra forma de si mesma escrevia o que pensava. Quando tudo cessava era o mirar do seu pensamento sem olhos, nunca o seu sentir sem palavras. “Fui melhor quando não fui eu”. Constatou ainda com dúvidas que o único meio de obter uma noção, mesmo que mínima sobre o bem e o mal,  é conhecer as lágrimas com a compaixão de quem é capaz de sentir pelo outro o sofrimento e a alegria.

Sua pretensa ingenuidade entrou instantaneamente noutro par de olhos fixos na escuridão.  Gostaria de dizer que não mudara em quase nada e que estava até mais bonita, mais feliz. “Os recados, às vezes, passam sem ruído, nem sempre cegos”, murmurou imaginando que viria do infinito algum elfo para esvaecer a sua hesitante decisão.

Não conteve o impulso de retornar e preencher com delicadeza o que carregaria para sempre no seu importante jardim sem importância.

Ainda que não soubesse, a engenharia das minudências soava como um límpido cristal, permitindo um quase perfeito retrato, à distância, do lugar onde estava. As mudanças invisíveis, enganadas, aparentemente imóveis.  Conduzia palavras como se fossem água e sol, universos autônomos refrescados livremente nas transparências.

Tentava dissuadir o berço de estrelas longínquas – ninguém é capaz de tecer melhor sobre o acaso do que a fugaz eternidade que lhe conferiam, a cada vez que, ingenuamente, as imaginava caladas.

“Com que amor me vive essa porção que me escapa. Sempre soube que a escreveria e seria com a alma que não domino.” Murmurou no passo que dava em direção de si mesma, como se aninhasse um segredo revelador. Na dupla face que a tudo contorna, mesmo veladamente, havia um zelo imprescindível. Os deuses possuem a mesma e inauferível dimensão que passa invariavelmente pelo desejo, à presença de perpetuarem-se no âmago das consciências e revolverem-se na imperfeição do que nunca morre. “Permaneço no outro como sendo o meu árido exterior re-fletido numa solução inevitável. Com a beleza párvoa de não estar em mim.”


Do livro "Entre as Águas" (prosa) 2011 By Tere Tavares

quarta-feira, 15 de julho de 2015

AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS



"Lute pela Água. Lute pela vida".

Organização: Thiago Cervan
Apresentação: Carlos Eduardo Carneiro
Foto da capa: Laura Aidar
Julho de 2015


"AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS"

Foto by Tere Tavares

Da flor das fontes

Que brota num veio

Para assinar-te a sede

E pela sede ensinar-te

Que é da fonte a flor

Incolor e inodora

Que te olha

Que te molha

Que te água.
By Tere Tavares


Confiram as demais participações em:
http://issuu.com/thiagocervan/docs/aquafuria_uma_antologia_de_poetas_s
Download gratuito. Em PDF.

O Poema "Da flor das fontes" também está publicado na Revista Fénix Logos:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L16/LOGOS16-SET2015-POESIA-65.htm