quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Quem sabe do mesmo verão

  1. Nem os carinhos esperam das brisas futuras,
    o sol dos destinos, onde os desertos andam,
    um brando vento. Os juncos sem motivo.
    Esbater-se num incerto detalhe,
    supremos momentos
    em que se tem por companhia
    o suave rosto do exílio,
    em tons límpidos como o céu e as águas,
    ouvir ou lembrar, algures,
    o silêncio de todas as nuvens.
    A areia morna tornando-se esquecida do mundo.
    Até não perceber a íntima presença,
    a impressão de que há tempo, muito tempo,
    aquela espuma se assemelha
    com algo da própria alma,
    e já não se é mais só.
    Alçantes do raso, soando ao longo da margem,
    regressos, memórias, amores.
    Os relevos todos do sentimento
    ao que se faz presente, amado.
    Faz-me bem. Mais que bem.
    Faz-me pensar que será eterno o meu sentir.
    Faz-me viver sem pensar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

FLOR ESSÊNCIA - POESIAS DE ECOLOGIA HUMANA.


Por Ricardo Mainieri – poeta e publicitário, autor do livro “Travessia dos Espelhos”.


FLOR ESSÊNCIA, POESIAS DE ECOLOGIA HUMANA.

A Natureza, principalmente nos séculos que nos antecederam, foi reverenciada por diversas religiões.Ao contrário dos tempos pós-Revolução Industrial, quando o homem passou a dominá-la, subjugá-la e ir, pouco a pouco, criminosamente devastando-a.

Ela aparece na tradição Wicca que estimula o amor pela Terra e que reverencia o aspecto feminino do Divino. Está, também, na Mitologia Grega com seus diversos deuses e deusas ligados à colheita e à fertilidade.No haicai  como um dos exercícios do budismo, nos ikebanas. Surge, sobremaneira, na poesia de Terê Tavares.

Pois esta escritora, nascida no RS, em meio aos campos do Alto Uruguai, traz em seu livro de estréia Flor essência, uma imersão na Natureza ora reverenciando-a, ora criticando o comportamento do Homem, dito, civilizado. Ela usa os elementos naturais para falar da psique profunda, do “religare” que está na base latina da palavra religião, de uma maneira toda particular.


Terê Tavares recupera, poeticamente, uma ecologia autêntica.Algo que tem ficado no discurso oficial, mas não encontra guarida nas ações efetivas de preservação ambiental.Salvo certas ações meio kamikazes de ONGs, espalhadas pelo Planeta...

Mas a poesia desta gaúcha, radicada há vários anos na cidade paranaense de Cascavel, aposentada do serviço público, é muito mais do que simplesmente, um itinerário de paisagens.

O bom-gosto do livro começa em sua capa.Um lindo buquê de flores estampada, em ornamento. Depois, a cor rósea, simbolizando o feminino da proposta da autora e da própria Natureza, que é mulher em sua personificação. Junta-se a isso, o prefácio extremamente bem redigido por Paulo Eduardo Lacerda, poeta paulista e graduando de Letras pela USP e a orelha de Ney Alexandre, contista cearense.

Do interior do livro emergem poemas belíssimos. Terê Tavares consegue extrair de suas pequenas obras, discursos surrealistas entremeados por uma musicalidade sutil e envolvente. As palavras, cuidadosamente esculpidas, compõem um painel alegórico e com dicção moderna. A autora demonstra domínio técnico e delicada sensibilidade, inclusive pelo social que, também, mostra sua face nesta Flor essência.

Mas, falar em poesia, sem dar aos leitores o prazer da degustação espiritual é falta de cortesia. Pois, vamos a mostra de alguns espécimes poéticos de Terê Tavares. Prestem atenção:

      Jabuticabeira

       noiva do sol
veste-se de olhos negros
    núpcias da noite

            Luas

    tenho duas luas
         sorrindo
      sob a blusa

   gêmeas & macias
cabem nas mãos tuas
 as minhas duas luas
   redondas e nuas

       mordaças
       bailarinas
      minhas luas
       travessas
        meninas
       levam-te
  até que respires
o sossego do sono

Não é necessário dizer mais nada.A poesia deixou seu recado.Que vocês podem conferir nesta obra da editora Coluna do Saber, sediada em Cascavel, Paraná. Contatos com a autora pelo e-mail t.teretavares@gmail.com

Fiquem com a benção dos elementais e a beleza destas ecológicas páginas.

Ricardo Mainieri – poeta e publicitário, autor do livro “Travessia dos Espelhos”.




sábado, 29 de novembro de 2008

A frase de efeito de hoje


Extraio sumos do extinto.
Limito a procura ao escuro que me instiga.
Novamente lembro,(coisas do intuitivo)
Tenho alguma palavra,
outras aberturas além de alguma palavra.
Toda visão de não estar neste comércio de palavras.

Minha cabeça mexe, excede o pronome,
o pré-nome que espero;
o exame da íris no ermo das páginas.

Visto o que subsiste,
engulo um pão-de-queijo, um vestígio,
e, guardiã, perfuro a folha de rosto.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

moça das águas

irriga a vertente negra de espumas
minúscula morenice
umidade
em âncoras esquecidas,
no mar somente, onda
de textura palpitante,
viço amornado de espessuras.
-não foi o breu arisco a ferir os mercadores de gotas,
nem a clorofila abundante foi à que emanava nuvem crua,
noite fria- não resguardaria
o ímpeto escaldante no peito.
/o feitiço virou e disse: vai que por ti não há tempo ou final
no meu rol de caracóis/
nem a água curou as feridas,
nem o céu supriu tanto partimento agora mais vivo do que antes.

e nada pensa que não.
esquece e lânguida, corre...
sem falsas nódoas, canta...
e dilacera a mais alegre quimera que dura
o tempo de mil vidas merecidas, o coral do riso.
e do lábio arisco de tanto risco tonto, beija...
o beijo que ofusca no olho que briga e promete
o ventre de areias e algas e sal,
o breu jovem de uma nuvem,
o manto brusco do assovio triste,
não mais triste que um eu só.
negrume: fértil nascente do sândalo noturno.
moça, de sandálias e sementes
de um adeus útil
não mais fútil que um eu vestido.
breu de cílios longos, manto,
não mais santo que um eu distante.

sábado, 1 de novembro de 2008

A obra aromática e filosófica de Tere Tavares


A OBRA AROMÁTICA E FILOSÓFICA DE TERE TAVARES

By  Lu Cavichiolli poeta e escritora paulistana


Das Essências entre teus outros

A poética desta autora contemporânea passeia desde reais tempestades até retiros espirituais,onde revela sutilmente versos travestidos de uma prosa elegante que atinge âmagos & universos.

Especialmente em Meus Outros , segundo trabalho publicado pela autora, a poeta conduz linhas e imagens infinitamente costuradas em meandros humanos usando agulha diamantada bordando palavras/espelhos que refletem íntimos seres, entes – o ser na filosofia pragmática da era branca de tabulas rasas da humanidade.

Em cada verso ela nos presenteia com aromas de algodão no plantio semântico – semente fecunda sob o olhar descendente dos verbos anais da literatura.

Artista de pincéis cria morada em quadras, tercetos e linhas abstratas versando ambigüidades inerentes da vida, morte, abandonos e descobertas. Desenhando nuances em flor no ocaso de aquarelas, todas pitorescas na alegria do prisma cristalino em auroras boreais. 

Em Jogando o Buquê, Tere retrata com especial beleza o casamento e a noite de núpcias – valores perdidos entre os tesouros da humanidade. Pode-se ouvir o tilintar enigmático da magia feito mistério na descoberta do amor, quando diz:

“estava diante dos beijos brancos de arroz/a vestal quiçá deusa de outras viagens/ou brinde perfumado de laranjeiras/dizendo de si somente o inimaginável/o delírio inconfessável noite onde o rocio vermelho daria à verdade antiga e quase morta/apenas vestígios dos desertos gulosos e tão vivos/de sede e saciedade tão certos/que recuperariam lúcidos a plenitude inocente da vida.”

Na maioria de seus poemas vê-se a introspecção exata de cada dúvida que pode ou não estar isolada em neurônios, escondidas em corações, ou até enfileiradas no peitoril de alguma janela alheia. Vê-se o ser mortal na tentativa de ser imortal no total desvelo de sucumbir na ânsia vazia de saber-se impotente diante da majestade suprema de Deus.

Enfim, o livro e seu fantástico conteúdo têm a nobreza de ser companheiro nas horas obrigatórias da nossa bendita leitura de cada dia.

Resenha do livro "Meus Outros
Tere Tavares - Artista Plástica e Escritora

http://escritosnamemoria.blogspot.com.br/p/resenhas.html

domingo, 26 de outubro de 2008

Passagem

Passagem

Hoje saio do inferno astral.
Vivo mais um ano e me sinto feliz.
Afinal, o final feliz não é mais que um novo início.
Às vezes é preciso mais que a mudez de um absorto monossílabo
para dobrar o sim que o ego reclama.

Pode ser que eu ame muito meus talvezes.
Pela intuição de que tudo é irreal,
vejo mais claramente a realidade.
Sempre estou não estando,
Na ramagem de uma escritura de um aroma,
Num livro que espera.

do livro "Meus Outros"

domingo, 3 de agosto de 2008

Textura


Textura

Sou esta nuance que nada deseja além de seguir ao longo do sulco da tua face e, talvez, esperar com alegria, ter esperança, ouvir uma canção – que resista a toda a espécie de balbúrdia e ao silêncio que a sucede ou caminha ao seu lado – como só um outro que me escuta , um poço de olhos fundos e insaciáveis, o alívio de todo peso de um nome. Nunca sou só o que sou.
O que dizer de quem se diz? Até onde contar o que nos conta?

E quando anoitecer que eu possa ser um pouco da noite, tecer a noite com a paciência do pescador.

E ao amanhecer que eu me perceba ao menos o mínimo da manhã a desfiar a luz do dia a fragrância dos matizes inolvidáveis do entardecer, como quem se entretém numa homenagem à Penélope e ao amor, como os ocasos em que sempre desce o indefinível e prodigioso ouro da claridade.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Bebaixo do Bulcão Poezine - Número 33 - Junho 2008

O adorável amigo de além-mar António Vitorino, publicou a edição "Dabaixo do Bulcão Poezine - 33 - " versão on line e impressa, com exímios escritores de prosa e poesia , entre eles, a querida Madalena Barranco com o poema "Vento Outonal", o próprio António Vitorino a nos dizer sobre os poetas de Almada, linda cidade de Portugal onde se espalha o jornal literário. Fiquei imensamente feliz e agradecida ao António pela publicação do meu texto, que posto a seguir:

Em estado bruto

Sinto um imenso vácuo dentro da cabeça. Como se milhares de zunidos dançassem em meus ouvidos. Uma pequena haste de Heráclito me põe nos lábios um sabor de noite e logo se vai.
Porém, sou eu que não vou e me perco no intervalo de um "preciso ir" e um "quero ficar".

Como se possível fosse ocultar-me de mim, num furto dolorido, juntando os olhos e a pele untados de transgressões, mal vestindo o querer mais farta ser do que sou, digo a mim mesma: amanhã, do final para o meio, sabendo o mesmo vácuo que se desprenderá da luminosa perspectiva, o meu caminho mesmo – que de mesmo só tem o ponto que desponta nas raias do sentido – tão estranho e grandiosamente pequenino, mais quando a minha substância é consciente da própria insubstancialidade.

sábado, 21 de junho de 2008

Espessas camadas de sonho


Espessas camadas de sonho

Estava absorto. Conduzia-se a um jardim desconhecido. Atrás de si restavam enormes árvores silvestres. Folhas multicores que lembravam quadros impressionistas formavam um macio tapete ao longo do caminho. Ele apoiava o pensamento na carta que trazia entre as mãos. Aproveitava a distração para falar consigo mesmo lucidamente o momento sinfônico que o seguia sem o risco de ser confundido por liberar suas orquestras. Enquanto fervilhava em suas pausas, definia o próprio resumo num teatro que estaria necessitando de ajuda ou julgamento, sendo justo como um engenheiro do rumo que, estranhamente, também o conhecia. E seus pensamentos umedecidos, mansos como as plumas, anteviam a alvorada suave que se desprendia da paisagem. E sua cor de estar inquieto, similar ao seu tempo de sonoras subdivisões, se instalava tão inebriante como quando ouvia: “vai passar, ter um lugar é anormal, o irremediável tem seu próprio remédio”.

Caminhava em cada degrau, o fecho, o revés, o grão – sem hesitar. Outrora alguém o vira entre os doutores do comportamento da rua das abóbadas – o velho herói louco o bastante para supor tratável a loucura. Então se deparava com seu estrito artefato: “O melhor lugar é ainda o mesmo lugar. Quem não lembra do sonho que tanto liberta quanto aprisiona, da coerência do sonho vão de um saltimbanco? Alimento a minha arte – as palavras, vou levando-as, e elas, lavando-me – como a realidade do sonho. Terei de novo tempo para suplantar a superfície, a minha. O bom amigo não costuma sofrer com fragmentações da personalidade – o cachorro. Ser poeta é ser mais humanamente cão”.

Porém, tudo aquilo que talvez viesse servir a muitos, era serena construção de quem andava solitariamente. E ele se alegrava com a imensidão de não se fazer acompanhar por ninguém. E novamente monologava repetindo em tom isento e profundo: “Ferem muito, o amor e a morte. Se não amo morro de não amar. E se não morro, vivo de não morrer. Na dúvida não há certeza, a não ser, a certeza de existir a dúvida. Mesmo que eu possa não seguir digo sempre algo para as muitas vezes em que me encontro indócil e, em tal intensidade me esqueço, que todo o existir exulta de ser-me. Felizmente, há vários tipos de happy end.”

Mesmo não havendo uma estação que ele identificasse como parte do seu pequeno espaço, um lugar que a cada instante não olvidasse a intenção lúdica da magia com que fora agraciado, prosseguia em meio à leveza das esperanças. E naquele mesmo dia, finalmente, e antes que... entregava no destino certo a carta e um esguio cálice de acácias – a sua preciosa aspiração de não se desiludir.
(do livro Meus Outros)
Publicado também no Portal Blocos on Line em Prosa/Prosa Poética:

Logro

Aprumo algumas alterações
da percepção,
Engano a mente e o sonho
com qualidades dignas de louvor.

Sou o próximo fidalgo
em que se depositará toda fé
De uma fábula nascida
em minha alma aparente.

Meu paraíso é fictício,
porém, é meu itinerário,
meu adorno
de tornar-me confiante.


(poema do livro Meus Outros)

sábado, 29 de março de 2008

Resenha do Livro Meus Outros por Madalena Barranco

Publico, na íntegra, o presente que recebi da amiga “Madalena Barranco, escritora paulistana, graduada em Letras, tradutora de espanhol. Escreve prosa & poesia, temperadas com fantasia, sempre em busca do legítimo gênero “histórias de fadas”. Dedica sua produção aos leitores dos 8 aos 108 anos, pela manutenção da fantasia na literatura”.
É como ela se apresenta nos sítios que freqüenta. Acrescento: Magalena, Magalinda, Madá... é portadora de uma delicadeza e afabilidade que a todos conquista. Tenho orgulho de estar sempre próxima e desfrutar da amizade desta talentosa artífice das palavras.
Por Madalena Barranco:

Resenha Meus Outros, Tere Tavares 19/03/2008.
Em seu distinto estilo poético a autora plasma o Impressionismo (escola de pintura do fim do séc. XIX e que influenciou a pintura dos próximos séculos), que também lhe inspira as artes plásticas através de suas pinturas em quadros, perfeitamente em seus poemas escritos. Algo que é visível quando se lê a impressão visual produzida, que a poetisa capturou da natureza. Algumas vezes, sutis toques de Simbolismo (escola literária do fim do séc. XIX) em seus versos, denotam a preocupação em manter a estética do conteúdo inserida em uma paisagem.
Tere Tavares enriquece sua poesia com momentos profundos de originais e metafóricos versos entremeados com páginas de prosa poética. A combinação das palavras transformam-se em indeléveis pinturas do Contemporâneo, que ora viceja na próxima época cultural da humanidade.
Neste verso, obtém-se uma visão clara do efeito da poesia de Tere: “-Enquanto passeio pelos livros letras se despem e viram folhas – Como veias abertas: meus anseios.” O que leva o leitor a compreender uma das principais mensagens do livro de poemas, nestes outros versos, que é: “-Talvez eu me sentisse como se depois de grande eu fosse ler o pequeno-príncipe”. E eu acrescento: - o pequeno príncipe inserido com liberdade em uma pintura, que lhe mostrasse livremente os sentimentos expostos ao vento das quatro estações.
Nos seguintes versos, um exemplo da poesia de Tere Tavares:
Galáxias
Porque as flores me escolhem acolhedora de flores.
Se relembrar este meio desencontrasse o veio,
o contraste de ver abatido o meu não obtido.
Se do firmamento firmasse só um verso que fosse,
um ai minúsculo, como se ópios caíssem
do que ouço de um exílio numa cascata de primaveras.
Porque as flores nutrem beija-flores.
Minhas observações: Entre paisagens vivas e naturezas mortas, poetadas em nuanças que vão de uma dimensão à outra e de verso em verso, a poetisa desfia e até desafia os enigmas das impressões conscientes ou não da alma humana, através de seus “eus”.
Visitem o blog da Madalena aqui http://flordemorango.blogspot.com/onde consta sua produção de prosas e poesias.

domingo, 23 de março de 2008

Exposição de Poesias


Exposição de Poesias

Os poemas do Livro “Flor Essência” (“Pão e Vinho”, “Oração ao Íntimo Ser”, “Filhos da Mãe”, “Teatro de Pétalas”, “Luas”, e “Anseios”) e do Livro “Meus Outros” (“Jogando o Buquê”, “Artimanha”, “Oito de Março”, “Homenagem à Graça”, e “Calculando o Céu”) – todos com abordagem da temática feminina – estiveram em exposição de 01 a 09 de março, durante as comemorações da Semana da Mulher no JL Shopping de Cascavel.
A arte da exposição foi elaborada pela gerência de Marketing do JL Shopping: o amável Adriano Pizzani e a simpática Andréa Toscano.

Agradeço ao Departamento de Marketing do JL Shopping pela oportunidade e parebenizo-os pelo excelente tributo à divulgação cultural nas mais diversas manifestações artísticas.

Oito de Março

Amarras no marco,
figuras do que em ti não cessa;
atendimento múltiplo
em desassossego,
barco de rota nítida,
marchas.

Dessa chama, turgescência,
marés desalinhadas,
ternurando egos, amos
...A dor meça.

Mar és, ar terra, mãe,
se anjo, se divino,
te chamas: Mulher.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Para cada momento uma palavra


Para cada momento uma palavra
As formas de grafar o tempo:
este canto infinito que detém o comando,
este Deus que, em cada partícula, imprime a sua marca.
Eu o vejo nesta bela colina antes mesmo de ser mencionado.
Observo a graciosidade que se desprende da sua plenitude
como se pudesse sujeitar à razão o que é isto.
E é um juízo final que não chega
e chega com verbos e rubores
ou a tal ponto cede ao delírio
que esta mínima parte
deste Deus que me habita
tem livre expressão
e me guia docemente.

(Poema do livro "Meus Outros"-TT)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Nasce "Meus Outros"

Nasce “Meus Outros”

Foram longas contexturas, entre noites prorrogadas, madrugadas
insistentes, dias multiplicados, prosas e versos escritos nos últimos
quatro anos, que me tornaram capaz do término (finalmente!) de uma nova recolha.

“Meus Outros” chega no final de dezembro, a tempo de refletir junto à taça
de vivas e convivas a essência de um processo de trabalhosa criação, mas,
e sobretudo, do indefinível prazer de concretizar.
Custa-me um pouco narrar cada detalhe desta constelação
de acontecimentos – é sempre nas ocasiões importantes que me torno
quase irremediavelmente estéril de palavras – todavia, tomem estas
poucas linhas como se possíveis de em inúmeras mais se transformarem.

Esta obra, com prefácio do poeta, professor e músico Renato Torres,
e texto de apresentação da poetisa Luísa Ribas, amigos a quem
redobro agradecimentos, entrega-se ao mundo.

Do mais profundo, desejo que “Meus Outros” bem caminhe!

Eis o poema da contracapa:

Desce o instante que viaja adormecido,
o crivo de algo que faz com que haja o belo,
a frase de cima e debaixo,
como o azul de uma intensa estrela diurna.

Evoco a herança de Ulisses.
Só o níveo sorriso no semblante
descalço de mundo,
do mundo em si
e de si mesmo no mundo.

Ressonâncias da mesma natureza pequenina,
na busca errante de não ofuscar o sentido da arte
de ser – arquiteturas que desocupam o pensamento
e preenchem a alma como a brisa cálida
e brilhante – amplitudes de supremos pomos,
realidades que suponho de milagre e sonho.

Tere Tavares

sábado, 22 de dezembro de 2007

Luas

Luas



tenho duas luas

sorrindo

sob a blusa



gêmeas & macias

cabem nas mãos tuas

as minhas duas luas

redondas e nuas



mordaças

bailarinas

minhas luas

travessas

meninas

levam-te

até que respires

o sossego do sono

Poema do livro "Flor Essencia"(2004)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Sem pena de ter

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) através de sua Gerência de Eventos e Cursos promove desde o início dos anos 90 uma iniciativa cultural importantíssima para o Brasil. Trata-se do "Banco de Talentos", que identifica e valoriza os bancários que desenvolvem habilidades artísticas. O evento seleciona os trabalhos dos funcionários de bancos de todo o Brasil para participação em mostras e shows, em edições de livros, em calendários artísticos em CDs e DVDs. Os trabalhos contemplados são expostos em galerias de arte, bibliotecas, escolas de artes e disponibilizados para companhias públicas e privadas que investem em atividades culturais, assim como a autoridades e lideranças empresariais. Cumprindo ciclos bienais de caráter permanente, nos anos ímpares são tradicionalmente pesquisadas as categorias Artesanato, Canto Coral, Escultura, Literatura e Teatro. A cada ano são recebidas milhares de inscrições, de mais de 150 municípios de todos os estados brasileiros.

Na edição de 2007, na categoria Literatura-contos, a comissão julgadora foi composta por Caio Porfírio de Castro Carneiro, Hersch Basbaum e Rosani Abou Adal. Dentre os contemplados figuro com o conto “Sem pena de ter”, que foi escolhido unanimente pelos jurados como principal destaque; consta na exposição festiva (gravada em DVD) que aconteceu em 12 de novembro de 2007 no Citibank Hall, em São Paulo e na antologia do Banco de Talentos Febraban 2007. Eis:

Sem pena de ter

A Igreja tinha um cheiro de antiguidades. Um balcão repleto de livros cobertos de pó obstruía o corredor. Algumas abelhas se distraiam pousando em velhas imagens que rodeavam as paredes. O rapaz passou as mãos de leve nos pés quebrados de um Santo Antonio. Uma lástima deparar-se com tudo naquele estado. Ele também tocou os bancos de jacarandá. Sentou-se.
Tanta atenção lhe despertava o lugar que quase esquecia o que o levara até ali. A moça da rua de ontem. Como não atender-lhe as dúvidas, esquecer-lhe o tom suplicante?
Daria cabo do seu egoísmo cumprindo a promessa. Antes rezaria pelos mortos com a mesma devoção que o faria para os vivos. Pediria pelo fim da angústia dita esperar, da enfermidade nominada crer, e tudo o mais que lembrasse as tristes ilusões do mundo. Pediria perdão pelo que pedisse e pelo que pensasse.

Naquela manhã de Maio morrera a morte do seu olhar na moça da rua de ontem. O assíduo assédio daquela alma se estendia sobre o silêncio daquele cenário gasto. A manhã de Maio era ali, com ele, ajoelhado, mentindo qualquer escrúpulo, revelando ocos de fora e de dentro. O resto era medo que o deixava na margem lúcida de próximas águas. O repasto, a moça da rua de ontem.

Vestia a viva ânsia de sair o mais depressa dali e levar-lhe o que a cobriria como a uma rainha. A sua. A imagem de ouro de Santa Rita. Um pé na escadaria e outro na rua. Voltou. Queria também os livros para salvar o amor no amanhecer e no poente.

Tere Tavares
Publicado também no Portal Literário "Ver-o-Poema":

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Recolher-se ao que é mais e é tanto.

Recolher-se ao que é mais e é tanto.

À grandeza de não ousar medir, à caça de encontrar-se, continuamente, submerso ou à tona, onde fosse possível pousar os sentidos ou brilhar ao lado de outro lado, como desesperanças que ainda esperam – lendo-as inerentes a sua forma de ver o mundo – ele prosseguia olhando o campo de margaridas ao seu redor, tentando comunicar-se com elas. Nenhuma lhe respondia. Ele fingia não perceber. Chamava-as pelo nome – cada uma tinha o seu – continuavam a não responder. Era como beber uma segunda impressão tão absurdamente vívida à sabedoria dos seus olhos, que sua intenção se abrandava numa linguagem breve e noturna.

Investigou o silêncio das margaridas. Algo acontecia enquanto ele derramava palavras sobre os seus mantos brancos. Os verdes ficavam mais verdes, como se ocupados de uma tintura especial de gotas finíssimas e de quase imperceptível distância. Demonstravam uma indisfarçável inquietação diante de seu estado próprio de mistério. Mas, ao incauto, porém não de todo distraído caminhante, apresentavam-se indubitavelmente serenas.

Um dia escondeu-se no meio delas. E pode, finalmente, ouvi-las: “Ele não veio hoje”.“Que pena”. “Ele é da menina colméia humana, e as pessoas jamais se curam do que as deixa suficientemente grandes para crer, e crer é no mínimo a metade do caminho”. “E se quisermos não ser mais o líquen velado a guardar seus murmúrios?” “Poderíamos pedir-lhe para voltar, em uníssono”. Calaram-se sem vê-lo – pareciam uma tela de Monet. Mostrou-se. Calaram-se por vê-lo – eram aparentemente indiferentes à sua presença.

Ele estava consciente, por fim, que a existência de tudo continuaria apesar da sua, que os matizes inaudíveis das senhoras do mal-me-quer e do bem-me-quer se multiplicariam quer ele despendesse atenções ou não. Enquanto se propunha a abandonar o não-essencial, as impressões, ora reais ora sonhadoras daquele pequeno lugar, reconstruía a necessidade de continuar em busca de algo intrépido, diverso do que julgava comum, mas que fosse indefinidamente repleto do prazer contido na alegria e na dor de relembrar, em cada momento vivido, o deslumbramento de uma certeza que remoçasse em outra dúvida. Prosseguia singularmente resoluto. E de cada sulco do caminho que o ignorava resplandecia um sólido assobio: “Apenas quem está em tremenda confiança tem na coragem a suficiência de não deter as lágrimas”.

Texto registrado no EDA
Fundação Biblioteca Nacional


segunda-feira, 3 de setembro de 2007

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Santo Anjo do Senhor


Quando meus olhos
não vêem mais nada
senão o sono que os acalma
então são só meus
os meus olhos
a descansar
sob as faces do mundo
e eu sou
toda uma oração
da noite me guardando.

Poema do Livro "Flor Essência"-
Tere Tavares

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Poema

Sou o que não permanece

as coisas que digo
não me dizem
já as que calo me contam
e as que contam de mim não sou eu
e se dizem e é verdade
em seguida é mentira
porque já terei sido antes
o que agora não sou mais
penso ser aquilo que faço
e o que deixo de fazer
é algo meu que não nasce

Poema do Livro "Flor Essência-
Tere Tavares"