sábado, 30 de setembro de 2017

Publicação na Revista Fenix de Portugal

O elo mais forte entre os continentes:
Antologias LOGOS FENIX número 27 -Edição de Setembro/2017.Carmo Vasconcelos e Henrique L. Ramalho a quem deixo minha gratidão e felicitações por mais essa publicação. Tere Tavares Edição de setembro/2017. Para leitura da Revista na íntegra acessem:

http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L27/LOGOS27-SET2017.htm
ANÍBAL
Por Tere Tavares
Quando a doce loucura de recolher-se o cinge, Aníbal vê-se navegando entre as páginas – fere-as com letras. Os joelhos dobrados: “na centralidade arrisco-me e escrevo ao gosto do que aprecio. Se me ocorrer a subtração desse direito, não haverá grandiosidade e a escrita sairá às avessas – o que poderá conferir-lhe uma beleza trivial, nunca uma beleza grandiosa. O branco, que é toda cor, deve fluir como flauta e como flecha”. Ele não entende nada de física nem de química. De imediato pensa naquele órgão submerso em seu mapa vascular, o não lugar e suas acústicas infalíveis, imaginando-se no infinito que o duplica, aplacados os olhos, como lenços imaturos que o fazem mergulhar continuamente. Porque os pequenos detalhes, normalmente, não são para todos os escribas.
É nesses momentos de harpa que Aníbal segura, no ânimo, a fisionomia inigualável de Rosália. Lembra-a sempre que atende ao seu chamado, no dia quente e imprevisto, ela, radiante num vestido de flores miúdas sobre um fundo negro, ou com outro vestido amarelo cádmio [assemelhado aos alucinantes matizes de Van Gogh], ambos de seda, escorregando nas sinuosidades do ambiente que, de algum modo, imagina eternizar, não querendo esperar como há-de ser o que não pode ser. Dizer a ela que lhe arde a negação e, talvez, não decante nunca a retrospectiva que, dia a dia, fracassa na complexidade impensada e não prevista, até que se dissolva a música que não lhe sopra outro nome, outra grafia que não a de Rosália – brotação e bulbo. “Sinto-me um mero transeunte do Tempo –acho o Tempo uma invenção; chamaram a esse vácuo desconhecido de Tempo assim como chamaram Deus ao resto do vácuo que restou. Eu resisto a tudo. Menos à amada que, infelizmente, não é minha”.
Aníbal não perde de ver-se, mesmo depois de um longo e imotivado intervalo. Nada faz com que desmorone a construção que fez de Rosália. [não recorda qual foi o inaugural elemento de que se serviu para isso; e isso não o perturba, nem lhe importa]. Rosália ser-lhe-á, por toda a vida, a alma diurna e feliz de que jamais se apartará por sentir-se inteiramente composto dentro dela.
do livro 'A licitude dos olhos' Editora Penalux/2016/SP

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Participação na 36ª Semana Literária e Feira do Livro do Sesc


Honrada por estar com os escritores que se fizeram presença nesse grandioso Evento Literário. Agradeço à Academia Cascavelense de Letras, à grande escritora de nossa História e Coordenadora do Projeto Livrai-nos Regina Sperança. Agradecimentos especialíssimos e super Parabéns ao SESC Cascavel, que sediou e idealizou  a 36ª Semana Literária e Feira do Livro, pela carinhosa recepção na pessoa de Lysiane Baldo e sua equipe.
Grande abraço a todos.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Ascendência e Declínio

Participante da Revista de Portugal EisFluências edição de agosto 2017

http://www.carmovasconcelos-fenix.org/revista/eisFluencias/48-Ago17/eisFluencias_Ago_2017_7_48-79.htm

ASCENDÊNCIA E DECLÍNIO
Por Tere Tavares

Faz frio. As plantas dormem. O tom cinza dos dias determina o horizonte. Os frutos, contrários à neblina, suplicam lentidões. As asperezas do solo são quase ingratas às árvores talhadas, minguantes às seivas que choram os sulcos das geadas. Só querem um espaço para saciarem a premência de nascerem de outra forma, noutra estação. Falta-lhes o calor, a claridade, a umidade desmedida. Tudo se recolhe num sem rumo de existências, como se findasse a todo o momento. O degelo tarda. Torna inútil o plantio, mesmo que justificando alguma vida.
Rosália, a moça das luminárias inapagáveis, não desaquece o coração: “Queria que me visses hoje, os mesmo lábios onde, julguei, os teus coubessem. O mesmo ventre que acarinhaste, como se a minha alma fosse a tua incorrigível distância. Não fosse a prepotência, essa ignorância a fazer-te Deus, saberias das circularidades, saberias que és como eu, apenas um esqueleto recoberto de uma sonhada carne amorosa”.

Minha gratidão à EisFluências.