quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Lábil ou Passagem transitória

Olhos Azuis- Aquarela 2014 By Tere Tavares


Lábil ou passagem transitória

Sinto-me uma sombra de existir, o que não comando do que fui não se repetirá – se fomos algo um para o outro será igualmente irreparável – pesam as bolhas febris por abrirem-se nos meus lábios, talvez o fruto se tenha misturado a algum sonho, do que sou para mim de incerto na incerteza de haver futuro na obrigatoriedade de mim, vendo-me cegamente na morbidez de um mar  inerte, como esse orvalho insistente que desseca os meus lábios, o que eles tinham despertado antes de apanharem o sol do meio-dia. A antemanhã que viveram agora é só uma bolha por explodir, demoradamente, para formar a ferida cuja pele hei-de retirar. Altero-me como a nuvem de breu que há pouco se derramou em mais orvalhos. Inundando a rua e as folhas sobre a muralha rosada dos lábios, as camadas que vão, em poucos dias, amarelar como propósitos mortiços a minha espera, entre entorpecimento e lucidez pairo como a chuva antes da chuva, semente antes do fruto das roseiras. Arrefeço o calor num cubo de gelo, alivio-me confusamente. Procuro o aparecimento no que ressurge sem evanescer essa tarde tépida esfumaçando-se no tremor das horas duras que me vivem ao  mesmo tempo que as pequenas grades vestidas de espumas e transparências em seus momentos de perguntarem-me porque lhes não respondo ao rompê-las, vãs, deixam-me passar como se soubessem que não sei o que será dessa liberdade alastrada que conspiro... essa abertura fosca que aplaude a minha alternativa de não saber querê-la – chamei-a de erros – enchi-me deles até esvaziar-me de irrealidades, ervas ostensivas, que medicina teriam para minhas alcovas febris neste sem fim de lábios? Que ser é tão capaz e tão fausto? De tanto tempo que julga o que o mundo tem? Dentro da minha casa há passagens exteriores, cortinas de árvores gigantes e miúdas cujo silêncio e brevidade não antevi ...horizonte fértil e diverso,  de plantas que conheci na diluição de alguém que talvez me representasse ou sucedesse diante de tantos rumos, crispam-se outros arbustos de que tenho saudade ...convergem-se as águas soltas, as araucárias e os álamos, as ramas de aliviar a febre, onde as perdi de olhar?  O jardim de rosas rubras igual ao rubor dos lábios que me doem radiantes... lírios ébrios de perfume, jasmins, amores-perfeitos que deixei de fitar mas que beijei na confluência esguia de todas as terras e todos os rios. Frutos.

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