quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Dentro ou ao redor do fictício


Dentro ou ao redor do Fictício

"A maioria da gente é outra gente" (Oscar Wilde)

Começara aquela manhã já em seu final com o firme intento de inscrever-se na admiração dos que a cercavam. Talvez por entender que sua obra era uma simples dádiva à bondade. Hester se preocupava em preencher sistematicamente seu interior de luzes e brilhos famintos de expressão – não importava o método.
Bastava servir-se de melancolia, um destino mal vestido, mal tratado. Às vezes, era como uma testemunha fitando algo impossível de confiar a alguém – o que não lhe coubera conquistar. A privação era também um alívio, incontestavelmente persuadível.

Não era necessário contemplar o espírito nômade recém chegado firmando-lhe um vestígio concreto de felicidade diante da etérea escuridão. Obedecendo ao que lhe ditara o coração repassou a torturante certeza de que não poderia retornar ao lugar de onde não há retorno.

Sob o céu reluzente e apesar da aridez forjava um novo intento. Na suavidade da noite impregnava à imaginação o prazer de ultrapassar o desconhecido, o furor inenarrável de criar. Busílis. Eis aí.

Os bosques pareciam uma ordem renascida, uma cantiga de estrelas irredutíveis. O impermanente, as malícias e álibis, tendo à direita e à esquerda o agora, a resplandecência de venerar as inevitáveis brotações do sentimento.
Repercutia, ao tocar, com as suas, outras divisões gravadas em filigranas de infinito, encerrando o que tivera no dia anterior e ensinando-a a não programar o próximo.

Texto do livro "Entre as Águas" By Tere Tavares
Foto By Tere Tavares

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