sábado, 20 de julho de 2013

Do sal à água ... em multidão


Do sal à água  ...em multidão
De quais orientações me despem os oceanos para se espelharem no espaço em que adormecem e se acumulam as ausências dos meus inícios?
 Ali, onde o óleo perfumado é leito e as armaduras se distribuem em vôos de fantasias reais, se despedem os meios-tons do silêncio de haver mais por regredir, (cá do meu canto sem encanto finjo não chorar cada momento amigo da distância).
Amparo-me em âmagos-motes, povoando um único instante: ser mar e areia confluindo entre margens de oásis. Quando então intuiria que tudo se dota das mais estranhas singularidades?  Seria meu ...ou eu esse mar, essa sereia, onde recolhida em saudade, peso  menos  que o opaco horizonte que me deseja enxergar. O que serei dessa fração não minha, crispada de ventres, sabor e alma?
A cada final de aurora em que recolho o que gostaria de nutrir por muito mais tempo, num ínterim que escapa de um céu iridescente escorrego nalguma rua imaginária, salpicando sinais aos imprevistos que me impulsionam para fora de mim (o algoz tão próximo) as muralhas adornadas de pombas, a coragem flutuante nos ramos de acácia.
Lago do papel que não me ilustra, afago o ocre dos papiros impressos nas orgias outonais, nas cumeeiras das casas à minha frente, dançando em colunas rotas de ternura.
As ilhas de sal que ficaram ao longe me perpassam o corpo com aparições de vidro. A doçura, nívea, se torna compulsiva e me dá uma possibilidade única de vislumbrar-me maior que a felicidade, pecadora ou angelical, quem me implorará sentires nunca experimentados? Dedilho vagarosamente no meu ser a feição mais cúmplice, o jeito que não descrevo.
Como um traço corrompido a lançar-se num abissal infinito, com véus de alguma estrela diversa da minha ousadia, opto,  sabendo que já opção não me resta, pelos mais salgados sais ... sem razão, perpetuo o desfiar dos relicários,  relatos pálidos de ostras, renascendo rapidamente em outra intrusão sem dia nem tempo por acabar... Se partirem-se os meus opostos, acoberto-me na própria engenharia do exercício que me constrói sem dar conta às renúncias por verter.
Obtusa, replanto lírios recolhidos de águas e salinas, muitas outras vezes, apenas para reconhecer o gosto de gostar-me. Com a alma espiralada na praia, a magia do meu regresso se redobra, porque simplesmente não suponho conformar-me em nublados resumos de mim ...como se não conhecesse o pranto  ...o sol insufla-me a carícia do calor em buquês de vinho enquanto o vento, em ziguezagues, me sublinha  a testa com mais uma de suas veredas.
Do livro "Entre as Águas"  By Tere Tavares
Foto By Tere Tavares