quinta-feira, 20 de junho de 2013

Nas divisas de um campo

Nas divisas de um campo

No es bueno quedarse en la orilla...
Sino que es puro y sereno arrasarse en la dicha de fluir y perderse,
encontrándose en el movimiento con que el gran corazón de los hombres palpita extendido. (Vicente Aleixandre)

Com a saudade adormecida no colo pensa não ser considerável retomar o caminho. O silêncio lhe entorpece a solidão do corpo, da alma. Um naufrágio vive preso em seus pulmões. Balbucia qualquer coisa, inquieta-se, e novamente se tranqüiliza. Os estagnados não criam alegria nem beleza. Tampouco servem a um maior objetivo. 

Ainda não detinha as rédeas do coração. Apenas se perdia em seus labirintos de emoções – alguns saneados e reconstruídos, outros em ruínas, com abrangências cada vez mais profundas e insaciáveis. 

O que aparentava ser simples de abandonar sem qualquer apego agora se tornava um aglomerado de situações insípidas. Não havia nada que soasse verdadeiro à sua fatal compulsão por novidades. Ignóbil. Julgava-se, mortificando a si mesmo sem que o tempo o soubesse, como se aos poucos pudesse recuperá-lo. Quanto daquilo tudo não era sua própria sombra às costas do mundo? 

Tocou-lhe os cabelos levemente para não despertá-la. Só naquele instante admitiria, recusando o inevitável revés, que não adiaria por coisa alguma a sua nômade natureza, exultando a verdade, fora de si, sem nenhuma noite para segui-lo.

Foto e texto By Tere Tavares